...quando aterrou no leito dele. Cheirou a um regresso a partes dela que já tinham partido há algum tempo. Há muito tempo.
Aonde está ele?
A casa ainda cheirava à colónia que borrifava todas as manhãs antes de sair porta fora para a rotina diária. À noite tinha o costume de deixar as chaves da casa ao lado dos perfumes para não se esquecer deles antes de sair.
Mas,naquela tarde, o odor desenhava um percurso que se repetia do quarto até à sala e da sala até ao quarto até terminar na porta de saída.
Maria estranhou o desenho...tinha em si a sensação fria de que aquele percurso tinha sido trapalhão.
A colónia fazia dançar pela casa uma melodia que Maria mal conseguia ouvir. Com calma, e tentando esquecer o que o seu sexto sentido lhe gritava, foi desfazendo as malas.
Ao abrir a primeira gaveta, espantou-se ao ver que estava vazia. Então abriu outra, e outra, e outra... e as portas do roupeiro...
Vazio!
Estava tudo vazio!
Mas aonde está ele? - repetia.
O quarto despido começou a parecer cada vez mais pequeno e Maria sentiu-se a ser engolida pela vida.
Faltava-lhe o ar e o espaço.
As pernas tremiam sem forças e o estômago dava nós sobre si mesmo. Acabou por se deixar cair até ficar sentada no chão!
Quando, finalmente, ouviu o que lhe era gritado, o seu coração apertado explodiu em forma de pontada forte no peito.
Pelos olhos jorrou um mar salgado em fúria e pela boca o silêncio de dois lábios que se apertaram demais para nada deixarem sair. Pelos ouvidos entrava a bom som a melodia que continuava a ser tocada.
E a colónia bailava...
quarta-feira, 17 de setembro de 2014
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